Tradução: Edson Mahfuz
Com a recente instalação de programas de modelagem BIM nos Estados
Unidos e Grã Bretanha, seguindo legislação nesse sentido, muitas empresas de
construção e arquitetos impressionáveis estão começando a entender os mitos
subjacentes ao BIM (building information model) e a se dar conta que o BIM está
longe de ser a panaceia apregoada pelos fabricantes e vendedores de software e
seus associados na burocracia oficial.
Mito 1: BIM é fácil
Muitos dos que pensam que a modelagem BIM é fácil de implementar em
um projeto ou em uma empresa de construção estão cegos pelo oba-oba do
marketing esperto. A verdade é que além de objetos padrão (e coloridos) como
pilares, vigas e grelhas simples, o trabalho real de documentar a construção de
um edifício ou é ignorada silenciosamente ou terceirizada para um subcontratado
inadvertido.
Também não se leva muito tempo para descobrir que o hardware
requerido para rodar programas BIM está muito alem da capacidade dos desktop
padrão. Além disso, esse tipo de programa é extremamente tedioso e trabalhoso, requerendo
muitos plugins especializados com menus de uma complexidade atordoante. Essa
complexidade significa que a extração de informação de um modelo BIM requer um
técnico altamente qualificado e eficiente, o investimento de muito tempo e
dinheiro, e um altíssimo nível de expertise na área de instalações.
É claro que a ideia de uma prática colaborativa em relação à
coordenação dos sistemas que compõem um edifício se perde pois são raros os
diretores de projeto que têm o tempo e a prática suficientes para ensinar a um
operador de CAD como modelar instalações exatamente como serrão construídas no
canteiro. Nenhum modelo BIM pode antecipar variações de fluxo de caixa,
mudanças climáticas, alterações de cronograma, disponibilidade de materiais e
de mão de obra.
Em outras palavras, com exceção da montagem de uma estrutura
metálica padrão ou da combinação de peças pré-fabricadas, qualquer conflito
potencial ou interferência que poderia ser detectada pelos programas BIM
depende totalmente do conhecimento sobre construção e modelagem de pessoas que sabem
muito pouco a respeito do que é construir no mundo real.
Mito 2: BIM é Automático
Diferentemente de um objeto produzido por uma máquina, um edifício é
um agrupamento de diversas peças inter-relacionadas, separadas por diferentes
ofícios, conhecimentos, critérios e regras práticas. Nenhuma quantidade de
colaboração em escritórios se equipara às decisões tomadas nos canteiros de
obra a todo momento.
No escritório, o desafio quixotesco é acumular informação visual 2D
e 3D num modelo BIM, ao mesmo tempo em que se coordena referências, sequencia
impressões e acomoda alterações de última hora. Tudo isso com uma equipe de
operadores de CAD que muda constantemente. Isso significa que a ideia de que
alguém pode facilmente extrair um desenho 2D desse modelo com um comando
Exportar ignora a frustração que frequentemente acompanha quase toda tarefa que
inclui um computador. Alguma coisa sempre dá errado.
Em outras palavras, o potencial da modelagem BIM requer habilidade
técnica para operar o programa, o conhecimento técnico necessário para
construir o modelo, capacidade de detectar correções e mudanças e de focar
intensamente em acrescentar informação útil na construção do modelo. O próximo
passo é plotar manualmente os documentos 2D junto com as especificações padrão
e os detalhes construtivos numa série bem referenciada de documentos e listas
de materiais impressos em papel.
Para que isso possa acontecer, os gerentes de TI têm que manter a
tecnologia com atualizações constantes, backups, reparos, treinamento contínuo
e abrangente e uma série de customizações que tem o objetivo de superar uma estrutura
de comandos muito complicada que caracteriza esse tipo de programa.
Mito 3: BIM é Útil
E, após todo esse trabalho adicional, após uma ou duas atualizações
de software, o arquivo que contém o modelo é totalmente inútil no que se refere
à administração e manutenção do edifício construído. Na verdade, a simples
ideia de que um encarregado de manutenção terá o tempo, funcionários e
orçamento para se manter atualizado em termos do hardware e software
necessários ao uso de um modelo BIM só pode emanar do marketing mais
imaginativo.
Em primeiro lugar, os computadores usados para produzir um modelo
BIM já estão se desatualizando ao mesmo tempo que o modelo é construído. Em
outras palavras, no momento em que o modelo é terminado e se torna parte de uma
licitação ou contrato, ele já está superado por avanços técnicos no hardware e
software necessários para produzi-lo e operá-lo. Todo mundo sabe que esses
programas estão evoluindo constantemente: melhorados, transformados ou
abandonados simplesmente para encorajar, se não forçar, a venda de novas
versões. Esta é uma verdade fundamental na indústria da informática.
Isso significa que os arquivos “salvos” a partir do equipamento
original são nada mais do que uma mescla volátil de midia que logo estará
antiquada. Qualquer um que se lembre dos modos anteriores de guardar arquivos
(cassetes, discos flexíveis, zip drives, etc) sabe que é apenas uma questão de
tempo para que a informação guardada em CD/DVDs, discos rígidos, solid state e
na “nuvem” deixem de ser úteis para os dispositivos computacionais futuros.
Para alguns a solução parece ser manter versões antigas de software
em velhos computadores e se manter proficiente naquelas versões. Mas os
operadores capazes de usar aqueles programas antiquados também são voláteis.
Primeiro, porque qualquer tempo sem usar aqueles programas reduz a capacidade
de usá-los drasticamente. Além disso, num mercado competitivo e em rápida
evolução, ninguém quer se manter desatualizado por medo de não poder buscar
outros empregos. E aqueles que aceitam trabalhar com equipamento e programas
ultrapassados logo se cansam e passam a ser pouco produtivos.
A solução é simples
A solução para as deficiências da modelagem BIM é uma ferramenta de
gerenciamento da informação 3D que não requer muitas atualizações ou mudanças,
é grátis e não exige um especialista em CAD para ser operado. Se comunicação e
colaboração é a chave para uma modelagem mais eficiente dos elementos
construtivos, o que a indústria da construção precisa é um programa 3D simples,
universal e transparente que qualquer pessoa possa usar em qualquer computador.
Esse programa é o Google Sketchup – o qual não seria grátis sem a Google.
Mark Carvalho, um dos precursores da modelagem 3D, expressou uma vez
a vontade de tornar o Sketchup uma ferramenta universal de comunicação visual,
uma espécie de PDF da modelagem 3D. Sua visão se baseava na filosofia de Brad
Shell, o criador do Sketchup, e no slogan da sua companhia (@Last): “3D para
todo mundo”.
Brad imaginou um programa que emulasse a sensação e a liberdade de
trabalhar com lápis e papel usando uma interface simples e fácil de aprender,
permitindo que as pessoas já pudessem testar ideias em 3D depois de uns poucos
minutos de prática (Ver na Wikipedia). Dessa maneira, modelos podem ser usados
para documentar construções, simular sequências e processos, comunicar
alternativas, e ser úteis para qualquer com um clique de um mouse e um toque ou
gesto com os dedos.
Nota do Tradutor 1: Em maio de 2012 o Sketchup
foi vendido para a Trimble, o que promete ser melhor para o programa, pois a
Google não tinha interesse em desenvolvê-lo. As duas versões lançadas pelo novo
dono comprovam isso. A versão grátis hoje se chama Sketchup Make.
Nota do Tradutor 2: Dennis Fukai, uma das
pessoas que administram o site InsiteBuilders, é autor de uma série de livros
mostrando como documentar uma obra com o Sketchup. Ver especialmente a série
Hands on Construction 101, publicada no blog InsiteBuilders (ver exemplo abaixo).
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