Arquitetura é arte? (1)

Duas postagens do arquiteto Lance Hosey no Huffington Post trouxeram à tona a antiga mas extremamente importante discussão sobre se arquitetura é arte ou não. Sempre que se discute a chamada “arquitetura do espetáculo” o assunto ressurge, pois seus adeptos afirmam que arquitetura é arte.

No primeira postagem, intitulada Sexism Is Alive and Well in Architecture, a discussão se centra no uso de formas femininas como inspiração para a arquitetura, o que Hosey considera inadequado:

“Toda cidade acaba tendo aquilo que admira, está disposta a financiar e, em última análise, merece. Nós merecemos ter silhuetas urbanas cheias de símbolos fálicos fetichistas? Emular o corpo feminino na arquitetura transforma a mulher e a própria arquitetura  em objetos, reduzindo os edifícios a totens, símbolos que nos lembram quem manda. Usar o corpo humano como modelo para a arquitetura é tão velho quanto o mundo mas talvez esteja na hora de os arquitetos repensarem suas fontes de inspiração”.

A segunda postagem, que detonou o costumeiro dilúvio de ofensas e agressões verbais dos que pensam de modo contrário, tem o título Why ArchitectureIsn’t Art (And Shouldn’t Be), ou seja, Porque a arquitetura não é Arte (E nem deveria ser).

“Patrick Schumacher revela a presunção mais comum entre os arquitetos. Nós reivindicamos que “formas novas” beneficiam a “evolução da sociedade” embora raramente se explique como isso se dá. Ironicamente, os arquitetos mais celebrados na verdade usam geometrias cada vez mais exóticas com propósito oposto: difundir seus interesses pessoais. Considere o seguinte: Quando construtores chineses começaram a copiar um projeto de Zaha Hadid há alguns anos, ela pensou em processá-los. No entanto, se as formas arquitetônicas são pensadas genuinamente para beneficiar a sociedade, mais forma não significa mais benefício? Porque então a objeção àquela imitação? Na pior das hipóteses, os autores já foram pagos pelo trabalho, então qual o dano causado pela imitação? Na verdade eles não deveriam querer doar o conceito? Talvez a noção de “formas novas” tenha muito mais a ver com auto-promoção do que com progresso social. Como disse Frank Zappa: ‘Arte é fazer algo do nada e vender’.”

No Brasil essa discussão é permanente. Por um lado projetos são justificados por terem pretensa inspiração das “montanhas da minha terra” ou das “curvas da mulher amada”. Há uma insistência em que só se está fazendo arquitetura quando o projeto parte de um conceito (não arquitetônico, é claro). Por outro, evita-se a discussão sobre as bobagens que são perpetradas a partir disso sob o pretexto de que arquitetura é arte, e isso nos dá licença para fazer qualquer coisa.






Nenhum comentário: