Por Santiago de Molina, publicado em Múltiples estratégias de proyecto em 20/4/2015
Frank Lloyd Wright, Manos, 1953, imagens de Pedro Guerrero |
As mãos trêmulas de um ancião de oitenta e seis invernos,
esforçadas em mostrar a diferença entre a sintaxe moderna e a orgânica é uma
imagem ponderosa. A importância que se infere delas está em saber que quando o
tempo nos pressiona, o último estertor se destina a prorrogar as mensagens
vitais.
O caso é que sempre se pode dizer tudo de modo mais simples. E,
a respeito das estratégias da arquitetura, basta uma tríade de verbos
elementares para resumir todas: copiar,
transformar e combinar.
Dito assim parece fácil, mas poder expressar isso me custou seis
anos.
Destas estratégias elementares de copiar, transformar e combinar
derivam todas as demais. Se a isso acrescentamos que copiar é uma ato
impossível, já que nunca o lugar, a matéria, o cliente ou os meios construtivos
da arquitetura são idênticos, e que toda cópia acaba modificada por repetição,
seriação ou seus similares, e portanto transformada em uma estratégia de
transformação ou combinação, nos resta uma equação verdadeiramente simples, em
que as estratégias múltiplas se reduzem a duas.
Um binômio mágico e de certa importância do qual emana o resto
das ações possíveis com que se gera a forma da arquitetura, numa cascata rica e
produtiva que rega a obra de qualquer arquiteto e época.
Da estratégia de
transformação nascem os atos de imitar, deformar, aumentar, dobrar, recortar e
todos os seus derivados, tanto os baseados na consciência pós-moderna como em
toda deformação... Arquitetos
transformativos são tanto Mies e Wright com suas operações sobre o rompimento
da caixa como as deformações paramétricas contemporâneas.
Por outro lado, da estratégia
de combinar brota todo o universo do híbrido, da collage e de toda mistura:
compor, agregar, incrustar, repetir, etc… Essa lista se estende e ramifica como
numa árvore genealógica extensa e inesgotável, desde Le Corbusier e a exigência
combinatória dos seus cinco pontos, a Koolhaas e seus “elementos” de arquitetura.
Tanto é assim que desde
estes parâmetros se pode realizar uma leitura complexa da história da arquitetura.
Associar o período renascentista a uma arte combinatória e luliana [1], ou o
esforço gótico a uma estratégia de transformação da pedra, é um fato tão certo
como pouco desenvolvido. Cada época se caracteriza por uma estratégia
predominante, uma força que a perpassa e que ocasionalmente aflora. O gene
estratégico dominante determina o caráter preponderante de um momento
histórico, não apenas em termos de “clássico” ou “barroco”, ou de “raposas” e “porcos-espinhos”…[2]
Porém, e apesar destas
elocubrações, fazer uma leitura das estratégias da arquitetura sem levar em
conta as pressões históricas que influem sobre elas é cair no reducionismo da
receita e esvaziá-las de conteúdo. É preciso dizer que me interessa a concisão desde
que não se perca com ela os seus matizes. ("E=mC2" ou "cogito
ergo sum" não são fórmulas vazias, tendo o desenvolvimento da profundidade
que representam levado algumas décadas).
[1] Referência a Ramon Llull, escritor, filósofo, poeta, missionário e teólogo catalão do século XIII.
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